Educação profissional: reflexões sobre o currículo e a prática pedagógica dos conservatórios - resenha crítica
Não é novidade que o ensino musical no Brasil está defasado. O que se vê nos espaços escolares e conservatórios são ensinamentos tecnicistas, voltados exclusivamente para a execução do instrumento. Nos últimos anos, com o advento da tecnologia e mudanças culturais, tal forma de ensino necessita verdadeira reformulação. "Nas últimas décadas, assistimos a uma revolução cultural, tecnológica, social e econômica global que vem acarretando profundas transformações no panorama educacional brasileiro." Esperidião (2002). Essa transformação social relatada pela autora pode ser recente, mas educação musical dos conservatórios traz uma herança da era colonial do Brasil. Naquela época índios eram doutrinados para catequização e os negros para entreter a corte, e seu repertório era quase totalmente europeu. O texto discorre sobre a ausência de personalidade e formação individual a partir do estudo da música. A sensibilidade do músico não era levada em conta, prejudicando a criatividade e atuação do mesmo.
Inerente à realidade do aluno, os conservatórios sempre permearam pela técnica do instrumento. A partir do século XIX, com a criação das primeiras escolas musicais do país, se estabeleceram as principais regras que foram seguidas até os dias atuais. Ensino focado na repetição, técnica e com um repertório já definido. "Ao aluno compete adquirir as habilidades necessárias para a execução instrumental em detrimento de uma educação musical que contemple o indivíduo como um ser atuante, reflexivo, sensível e criativo." Esperidião (2002). A Lei Federal de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n.o 5.692/71 tenta profissionalizar a educação musical, tratando-a como um ensino "supletivo". O currículo é definido de forma sequencial, tecnicista e preparatório como um curso técnico. Moraes (1997), discorre que a pedagogia tradicional é responsável por essa afirmação. "Este paradigma parte do pressuposto de que o indivíduo desenvolve melhor suas habilidades como sujeito passivo." (Moraes, 1997, p. 146).
A partir de experiências ineficazes relatados nos parágrafos anteriores, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n.o 9.394/96 vai na contramão do que foi feito até então. A lei entende que a primeira formação deve ser a do indivíduo no pleno exercício da cidadania. Mais correções foram feitas nos anos seguintes à partir de leis e diretrizes. A necessidade de formar cidadãos e aproximar o currículo ao mercado de trabalho, influenciou a reformulação docente das escolas. Falando exclusivamente da música, a utilização de repertório contemporâneo também foi prioridade na configuração curricular dos Conservatórios.
Muito bem colocado, a autora ressalta a importância de conhecer a realidade individual. "É nesse sentido que os sujeitos envolvidos no processo ensino/aprendizagem dos Conservatórios podem e devem refletir sobre suas práticas educativas, pois, além da formação profissional, estamos também formando o cidadão." Esperidião (2002).
Educar um aluno não é uma tarefa fácil. Formar um cidadão é ainda muito mais difícil. A expressão e a criatividade devem ser estimuladas logo nos primeiros ensinamentos. O ensino tecnicista tem o seu valor, e se usado concomitantemente com as técnicas mais modernas de docência, poderemos tirar o melhor de cada estilo, possibilitando ao aluno um leque maior de possibilidades no aprendizado musical dos conservatórios.
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